segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Biografia general Humberto Delgado
Humberto Delgado, conhecido como o "General sem Medo», nasceu a 15 de Maio de 1906, em Torres Novas, filho de um militar republicano.
Frequentou o Colégio Militar, cujo curso concluiu em 1922. Em 1925 entrou na Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas.
Aos 46 anos foi promovido a brigadeiro e aos 47 a general – o mais novo da sua geração. De 1941 a 1943 foi o representante português a estabelecer com o governo inglês os acordos secretos referentes à concessão de bases nos Açores. Durante cinco anos chefiou a missão militar portuguesa em Washington.
Em 1944 foi nomeado director do Secretariado de Aviação Civil. Em 1945 fundou os Transportes Aéreos Portugueses e criou a primeira carreira regular da TAP (Lisboa-Madrid).
Participou nas eleições presidenciais de 1958, contra o almirante Américo Tomás (apoiado por Salazar), reunindo em torno da sua candidatura toda a oposição ao regime. Numa famosa entrevista realizada pelo jornalista Mário Neves em 10 de Maio de 1958, quando lhe foi perguntado que posição tomaria face ao primeiro-ministro António de Oliveira Salazar, respondeu com a célebre frase “Obviamente, demito-o”. Foi a frase de declaração de guerra ao regime. Devido à sua coragem de dizer em público palavras pouco respeitosas e agressivas para o regime e para Salazar, foi cognominado de “General sem Medo”. Esta frase célebre incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante a campanha.
Nas eleições presidenciais de 1958 acabou por ser derrotado, tendo contestado os resultados (obteve 25% dos votos expressos, segundo as fontes oficiais).
Em 1959, na sequência da derrota, vítima de represálias por parte da polícia política, pediu asilo político na Embaixada do Brasil, seguindo depois para o exílio na Argélia.
Convencido de que o regime não poderia ser derrubado pelos meios pacíficos, procurou atrair as chefias militares para um golpe de Estado. Este golpe foi executado em 1962 e planeou tomar de assalto o quartel de Beja e outras posições estratégicas e importantes de Portugal. A revolta fracassou.
Morreu assassinado pela PIDE, em Espanha, perto da fronteira de Olivença.
Em 1990, a título póstumo, foi nomeado Marechal da Força Aérea. O seu corpo está, agora, no Panteão Nacional.
Biografia de Salazar
António de Oliveira Salazar, nasceu em 1889 em Santa Comba Dão, uma aldeia de Vimieiro. Era filho de um feitor humilde.
Em 1900, depois de completar os seus estudos na escola primária, António Salazar entrou no seminário de Viseu. Em 1908, o seu último ano lectivo no Seminário, tomou finalmente contacto com toda a agitação que reinava em Viseu. Licenciado em Direito, foi nesta mesma faculdade que lhe e concebido o grau de Doutor, na qual viria a ser professor catedrático. Era conhecido por um homem sério, introspectivo, austero, católico e conservador.
Foi também António de oliveira Salazar, que fundou o centro católico português, em 1917.
Iniciou o seu cargo como ministro das Finanças em 1928, depois de uma revolução, permanecendo neste até 1932.
Foi o político que entre 1932 e 1968 dirigiu os destinos de Portugal, com o cargo de primeiro-ministro. Foi fundador e chefe da União Nacional a partir de 1931. Ele também foi o fundador e principal mentor do Estado Novo, substituindo a Ditadura MIlitar. Também exerceu o cargo de Presidente interino da República, mas somente no ano de 1951.
Em 1968, depois de uma vida dedicada a Portugal, Salazar começou a doenças do foro neurológico, e um dia acabou por cair de uma cadeira causando-lhe hematomas cerebrais que se foram agravando ao longo do tempo, acabando por falecer em 27 de Julho de 1970 em Lisboa.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Tempo da escrita - "Felizmente há luar!"
Tempo da escrita (século XX - 1961)
agitação social dos anos 60 - conspirações internas; principal irrupção da guerra colonial;
regime ditatorial de Salazar;
maior desigualdade entre abastados e pobres;
classes exploradas, com reforço do seu poder;
povo reprimido e explorado;
miséria, medo e analfabetismo;
obscurantismo, mas crença nas mudanças;
luta contra o regime totalitário e ditatorial;
agitação social e política com militares antifascistas a protestarem;
perseguições da PIDE;
denúncias dos chamados "bufos", que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar;
censura à imprensa;
prisão e duras medidas de repressão e de tortura;
condenação em processos sem provas.
Tempo da ação/ história - A corte no brasil
Tempo da História (século XIX - 1817)
agitação social que levou à revolta liberal de 1820 - conspirações internas;
revolta contra a presença da Corte no Brasil e influência do exército britânico;
regime absolutista e tirânico
classes sociais fortemente hierarquizadas;
classes dominantes com medo de perder privilégios;
povo oprimido e resignado;
a "miséria, o medo e a ignorância";
obscurantismo, mas "felizmente há luar";
luta contra a opressão do regime absolutista;
Manuel, "o mais consciente dos populares", denuncia a opressão e a miséria;
perseguições dos agentes de Bereford;
as denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam;
censura;
severa repressão dos conspiradores;
processos sumários e pena de morte;
execução do General Gomes Freire.
Elementos simbólicos - "Felizmente hà luar!"
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Saia verde: A saia associa-se à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. No Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.
A luz - como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade. A luz representa a esperança num momento trágico.
Noite - Simboliza a escuridão, a morte, a tristeza,
O fogo - É um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
Moeda - Símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.
Tambor – representa a presao, o medo, que existia nesse tempo quando chegava a policia.
Caracterização das personagens, "Felizmente Há Luar!"
D. Miguel Forjaz - Prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros); deixou-se corromper pelo poder.
“Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for é meu inimigo pessoal.”
Simboliza a decadência do país que governa;
A hipocrisia e a mesquinhez são as suas principais características;
Enquanto governador de Lisboa, representa o espírito decrépito e caduco que impede
a evolução do país e condiciona a sua existência enquanto nação.
Principal Sousa - Defende o obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente;
Deformado pelo fanatismo religioso;
Desonesto;
Representante do poder eclesiástico.
Beresford - Cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação;
Trocista e mordaz, despreza o país onde é obrigado a viver;
Oportunista; autoritário; é bom militar;
Preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro;
Ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o
que realmente quer, ao contrário dos 2 governadores portugueses;
Odeia Gomes Freire, não porque o afronte enquanto oficial, mas porque o incomoda
enquanto herói do povo.
Vicente - Traidor para ser promovido;
Acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua
condição social (só desse modo pode ascender socialmente);
Representa a hipocrisia e o oportunismo daqueles que não olham a meios para atingir
os seus fins;
Reveste-se de um falso humanismo e de uma solidariedade duvidosa, para fomentar
a ira popular contra Gomes Freire.
Manuel - O mais consciente dos populares;
É corajoso;
Representa, metaforicamente, o povo português. Coexistindo com a miséria e a fome,
protagoniza a consciência de um povo vilipendiado pela opressão, manifestamente
impotente para alterar o seu destino.
Sousa Falcão - Representa a amizade e a fidelidade;
É o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça;
Ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um
amigo nos momentos difíceis;
Representa a impotência perante o despotismo dos governadores.
Frei Diogo Melo - Homem sério;
Representante do clero;
Honesto – é o contraposto do Principal Sousa.
Matilde de Melo - Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam
em volta do poder (faceta/discurso social);
Por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa
situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio;
Carácter forte; corajosa perante a vilania;
Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.
Gomes Freire de Andrade - Personagem virtual;
Defensor do povo oprimido;
O herói ;
Símbolo de esperança de liberdade.
Representa, simbolicamente, a integridade e a recusa da subserviência, a sua
capacidade de liderança e os exemplos de coragem na defesa dos seus ideais
remetem para o Portugal do passado, para o período áureo da Nação, que assumia
convictamente a justiça da sua identidade e a veracidade da sua luta pela liberdade.
Populares - Representantes do povo oprimido, sobre o qual era exercida a violência, funcionam como coro. As suas falas denunciam a pobreza e a ironia é a sua arma.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Estrutura Interna e Externa de "Felizmente há Luar!"
Estrutura Externa
•A obra apresenta dois actos, não se encontrando, todavia, dividida em cenas. Referindo-se à organização bipolar da obra, José de Oliveira Barata afirma o seguinte: «Expressando-se dicotomicamente, mas evitando os prejuízos de uma apresentação maniqueísta, Sttau Monteiro transferia para a realidade cénica o verso e o reverso da complexa realidade sociopolítica que o país vivia.»
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Estrutura Interna
•«Felizmente há luar!» evoca uma época histórica em que ocorre um facto também ele histórico e protagonizado por uma figura histórica: a conspiração abortada de 1817 e na qual se destaca o general Gomes Freire de Andrade.
•O conflito da peça nasce da oposição existente entre as “forças do futuro”, cuja figura central e emblemática é o referido General, símbolo da mudança, do progresso, da luta pela liberdade, e as “forças do passado”, representadas por Beresford, Principal Sousa e D. Miguel.
•Verifica-se um paralelismo na construção dos dois actos: ambos iniciam com os monólogos patéticos de Manuel «o mais consciencioso dos populares» e símbolo do povo consciente e crítico. No acto I, as falas subsequentes ao monólogo transmitem informações relativas ao contexto histórico e, posteriormente, no acto II, reiterar-se-ão os aspectos já apresentados anteriormente.
Teatro Épico
O conceito de teatro épico diz respeito a um teatro didático que procura uma distanciação entre personagem e espectador para que este seja capaz de refletir e apreender a lição social proposta. Este conceito é apontado, por volta de 1926, pelo poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que opõe ao teatro clássico e tradicional (teatro aristotélico) um teatro narrativo que em vez de suscitar emoções e sentimentos desperta uma atitude crítica.
O teatro épico, proposto por Brecht, contrapõe-se à tragédia clássica para melhor conseguir o efeito social. Enquanto o teatro clássico conduz o público à ilusão e à emoção, levando-o a confundir o que é a arte com a vida real, no teatro épico a "distanciação" deve permitir o envolvimento do espectador no julgamento da sociedade. Por isso, o teatro épico implica comprometimento, crítica contra o individualismo, consciencialização perante o sofrimento dos outros e a realidade social. Deve, na sua tarefa pedagógica, instruir os espectadores na verdade e incitá-los a atuar, alertando-os para a condição humana. O espectador deve ter um olhar crítico para se aperceber melhor de todas as formas de injustiças e de opressões.
Texto dramático
Texto Dramático é constituído por:
•Texto principal composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
•Texto secundário (ou didascálio) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:
◦pela listagem inicial das personagens;
◦pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
◦pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
◦pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
◦pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;
Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.
Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
Estrutura interna:
•Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
•Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
•Desenlace – desfecho da acção dramática.
Classificação das Personagens:
* Quanto à sua concepção:
•Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
•Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.
* Quanto ao relevo ou papel na obra:
•protagonista ou personagem principal Individuais
•personagens secundárias ou
•figurantes Colectivas
Tipos de caracterização:
•Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
•Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.
Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
•Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
•Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.
Tempo:
•Tempo da representação – duração do conflito em palco;
•Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
•Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.
Discurso dramático ou teatral:
•Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
•Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
•Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.
Intenção do autor - pode ser:
•Moralizadora;
•Lúdica ou de evasão;
•Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
•Didática.
Formas do género dramático:
•Tragédia
•Comédia
•Drama
•Teatro Épico.
Outras características:
•Ausência de narrador.
•Predomínio do discurso na segunda pessoa (tu/vós).
Vida e Obra de Sttau Monteiro
Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro, mais conhecido entre nós por Luís de Sttau Monteiro, nasceu em Lisboa a 3 de Abril de 1926 na Rua de Liverpool, facto que mais tarde aproveitará para brincar, dizendo:"Sou tão estrangeiro que até nasci na Rua de Liverpool".
Filho de jurista, professor catedrático e diplomata, Armindo Monteiro, e de uma senhora da confluência da nobreza espanhola e portuguesa, teve junto da família uma infância e juventude onde os problemas económicos não se colocavam.
Com apenas dez anos de idade, o pai foi nomeado embaixador em Inglaterra, deslocando-se assim para Londres, onde viveu até 1943, altura em que salazar o demite do cargo por ser simpatizante do regime inglês. A estada em Londres exerceu forte influência na personalidade de Sttau Monteiro e, consequentemente, em toda a sua vida e obra.
Aí teve o primeiro contacto com a dura realidade da guerra pois, na altura, Inglaterra era o palco da Segunda Guerra Mundial. É desta época que remonta o seu repúdio pelo horror das guerras, não compreendendo os espíritos mesquinhos que as comandam.
De volta a Portugal, estuda num colégio de Jesuítas em Santo Tirso, do qual é expulso, e continua os estudos no Liceu Pedro Nunes. Apesar do seu gosto pela matemática, a influência dos familiares leva-o a seguir as pegadas de seu pai tirando, assim, o curso de Advocacia na Faculdade de Direito de Lisboa. Contudo, não se sente realizado e, por isso, é breve a sua passagem pelo Direito.
O fascínio por Londres e por tudo o que lá aprendeu mantém-se bem vivo. Por isso, resolve voltar a esta cidade onde casa com uma senhora inglesa e se torna corredor de Fórmula 2. Dedica-se também à pesca e à gastronomia.
De novo em Portugal e incentivado por autores como José Cardoso Pires, começa a escrever para o Almanaque em 1960, sob o pseudónimo de Manuel Pedroso. Esta data representa um marco fundamental na carreira literária de Sttau Monteiro. Data de 1960 o seu primeiro romance, Um homem não chora. No ano seguinte, escreve Angústia para o jantar e o drama Felizmente há Luar!, que lhe valeu os primeiros Grandes Prémios de Teatro da Sociedade Portuguesa de Escritores da Fundação Calouste Gulbenkian. A estes se seguiram outros textos, sobretudo dramas, que confirmaram as suas qualidades como escritor.
Para além deste faceta, foi um conhecido jornalista, publicitário e gastrónomo.
Foi durante longos anos colaborador do Diário de Lisboa, Diário de Notícias e O Jornal. Em 1982 viu a sua novela Agarra o Verão Guida, Agarra o Verão dar origem à telenovela Chuva na Areia. Tornou-se conhecido do grande público, através da sua participação no concurso televisivo A Cornélia, no qual fazia de júri.
Foi este grande homem multifacetado, de espírito irreverente e combativo, cultivando uma grande paixão pela vida, que Lisboa viu desaparecer, precocemente, a 27 de Julho de 1993.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
"A Mensagem" e análise do poema "O Encoberto"
Que símbolo fecundo/
Vem na aurora ansiosa?/
Na Cruz Morta do Mundo/
A Vida, que é a Rosa./
/
Que símbolo divino/
Traz o dia já visto?/
Na Cruz, que é o Destino,/
A Rosa que é o Cristo./
/
Que símbolo final/
Mostra o sol já desperto?/
Na Cruz morta e fatal/
A Rosa do Encoberto./
/
Reflexão:
Encontra-se tripartida entre Os símbolos, Os avisos e Os tempos. Com os primeiros começa por manifestar a esperança e o "sonho português", pois o actual Império encontra-se moribundo. Nos três avisos define os espaços de Portugal; com os cinco tempos traduz a ânsia e a saudade daquele Salvador que, na Hora, deverá chegar, para edificar o Quinto Império, cujo espírito será moral e civilizacional.
"A Mensagem" e análise do poema "O Quinto Império"
Triste de quem vive em casa,/
Contente com o seu lar,/
Sem que um sonho, no erguer de asa,/
Faça até mais rubra a brasa/
Da lareira a abandonar!/
Triste de quem é feliz!/
Vive porque a vida dura./
Nada na alma lhe diz/
Mais que a lição da raiz –/
Ter por vida a sepultura./
/
Eras sobre eras se somem/
No tempo que em eras vem./
Ser descontente é ser homem./
Que as forças cegas se domem/
Pela visão que a alma tem!/
/
E assim, passados os quatro/
Tempos do ser que sonhou,/
A terra será teatro/
Do dia claro, que no atro/
Da erma noite começou./
/
Grécia, Roma, Cristandade,/
Europa – os quatro se vão/
Para onde vai toda idade./
Quem vem viver a verdade/
Que morreu D. Sebastião?/
/
Reflexão:
Este texto épico “Quinto Império” de Fernando Pessoa, faz parte de uma obra constituída por vários textos, o qual se chama “Mensagem”. Neste poema Fernando Pessoa faz o tema central do texto “D. Sebastião” com o cognome “O Desejado”, foi o décimo sexto rei de Portugal, é conhecido pela lenda de que vai aparecer num dia de nevoeiro em cima do seu cavalo, como fosse um “messias” que vem salvar Portugal.
"A Mensagem" e análise do Poema "Ascenção do Vasco da Gama"
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra/
Suspendem de repente o ódio da sua guerra/
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus/
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,/
Primeiro um movimento e depois um assombro./
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,/
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões./
/
Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta/
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,/
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta./
/
Reflexão:
A figura de Vasco da Gama é engrandecida neste poema por vários aspectos:
1. Pela situação de elevação aos céus num plano superior ao da simples condição humana – libertando-se do corpo, torna-se alma e imortaliza-se;
2. Pelos efeitos provocados por esta situação: o pasmo dos Deuses e dos Gigantes, o silêncio e assombro da natureza e a admiração dos homens;
3. Pelo nome de “Argonauta” dado a Gama, identificando-o com os heróis míticos da Grécia antiga, que procuravam desvendar o desconhecimento, buscando o inacessível e o impossível. É de salientar que este poema se associa à representação que é conferida a Vasco da Gama “n’Os Lusíadas” obra em que o herói é também elevado no plano dos Deuses nomeadamente no episódio “Ilha dos Amores”.
"A Mensagem" e Análise do Poema "O Infante"
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce./
Deus quis que a terra fosse toda uma,/
Que o mar unisse, já não separasse./
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,/
/
E a orla branca foi de ilha em continente,/
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,/
E viu-se a terra inteira, de repente,/
Surgir, redonda, do azul profundo./
/
Quem te sagrou criou-te português./
Do mar e nós em ti nos deu sinal./
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez./
Senhor, falta cumprir-se Portugal!/
/
Reflexão:
Este poema (“O infante”) foi criado para estabelecer uma relação passado/presente/futuro. Deus quis que os portugueses sonhassem o desvendamento do mar, fazendo nascer a obra dos descobrimentos.
Os portugueses no passado cumpriram, a missão divina, desvendando os mares desconhecidos e criando o Império. Mas este desfez-se e, no presente, Portugal é uma pátria sem glória que falta “cumprir-se” daí o apelo profético expresso no último verso exclamativo, ao cumprimento do destino mítico do Portugal.
"A Mensagem" e Análise do Poema "Ulisses"
O mito é o nada que é tudo./
O mesmo sol que abre os céus/
É um mito brilhante e mudo --/
O corpo morto de Deus,/
Vivo e desnudo./
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Este, que aqui aportou,/
Foi por não ser existindo./
Sem existir nos bastou./
Por não ter vindo foi vindo/
E nos criou./
/
Assim a lenda se escorre/
A entrar na realidade,/
E a fecundá-la decorre./
Em baixo, a vida, metade/
De nada, morre./
/
Reflexão:
Ulisses, o herói da guerra de Tróia e protagonista da obra odisseia de Hómero, é um dos grandes mitos da civilização grega, e segundo a lenda, terá fundado Lisboa. Ao recuperar esta lenda e elege-lo como um dos primeiros poemas da “Mensagem”, Fernando pessoa tem precisamente a intenção de atribuir a Portugal uma origem mítica, que é mais valiosa de que qualquer origem histórica (os heróis desta obra são localizadas sobretudo no seu lado mítico).
Tal como na “Mensagem”, Camões recupera nos Lusíadas a lenda de que Ulisses terá fundando Lisboa.
"A Mensagem" e Análise do Poema "O dos Castelos"
A Europa jaz, posta nos cotovelos:/
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,/
E toldam-lhe românticos cabelos/
Olhos gregos, lembrando./
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O cotovelo esquerdo é recuado;/
O direito é em ângulo disposto./
Aquele diz Itália onde é pousado;/
Este diz Inglaterra onde, afastado,/
A mão sustenta, em que se apoia o rosto./
Fita, com olhar esfíngico e fatal,/
O Ocidente, futuro do passado./
/
O rosto com que fita é Portugal./
/
Reflexão:
Tal como neste poema da “Mensagem”, a estrofe de “Os Lusíadas” indica Portugal como “cabeça da Europa toda” atribuindo-lhe uma missão predestinada. Mas “n’Os Lusíadas” essa missão é ditada pelo “Céu” que quis que Portugal vencesse na luta contra os mouros enquanto que na “Mensagem” a missão de Portugal será mais abrangente.
Estrutura da obra "A Mensagem"
Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como uma ideia completa, de sentido cósmico, e dando-lhe a forma simbólica tripartida – Brasão, Mar Português, O Encoberto. Que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte; essa conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – o Quinto Império. Assim, a terceira parte, é toda ela cheia de avisos, preenche de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem á luz: depois da Noite e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã: estes são os Tempos. E aí sempre perpassarão, com um repetido fulgor, sempre a mesma mas em modelações diversas, a nota da esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto…
É dessa forma, o mítico caos, a noite, o abismo, donde surgirá o novo mundo, “Que jaz no abismo sob o mar que se segue”.
"A Mensagem" Gênero literário
A Mensagem é uma obra épico-lírica, pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.
A Mensagem está dividida em três partes. Esta tripartição corresponde a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. Mas essa morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.
Significado do Titulo da Obra "A Mensagem"
No entanto o primeiro título do livro não era "Mensagem", mas sim "Portugal". É por sugestão de um amigo - Da Cunha Dias - que Pessoa reconsidera, mudando o nome. Esse amigo ter-lhe-á indicado a evidência do nome "Portugal" estar já nessa altura demasiado vulgarizado, inclusive em marcas comerciais.
Curiosamente - ou talvez propositadamente - "Mensagem" é uma palavra com o mesmo número de letras de "Portugal". Mas uma folha no espólio explica o processo porque passou a génese deste título, que foi muito bem pensado pelo seu autor. São os seguintes significados os encontrados nessa folha:
1. Portugal e Mensagem têm 8 letras. O oito é um número de harmonia, mas também um número ligado aos templários, mais precisamente à cruz Templária que tem 8 pontas. É a mesma cruz que depois vai nas caravelas, já cruz de da Ordem de Cristo, seguimento natural dos Templários depois da extinção destes por ordem Papal. Assim, Pessoa num primeiro sentido diz-nos que a "Mensagem" é "Portugal" e que "Portugal" é a realização da missão da Ordem de Cristo e - por descendência - da Ordem do Templo.
2. "Mensagem" é ainda dividida por Pessoa em 3 partes: MENS/AG(ITAT MOL)EM. "Mens Agitat Molem" é uma citação tirada de Virgilio na Eneida, que significa que a mente move a matéria. O objectivo da "Mensagem" seria mover as moles humanas, através da poesia.
3. Da palavra "Mensagem" Pessoa tira ainda outro significado, sublinhando ENS e GEMMA, para formar a expressão ENS GEMMA. Ou seja, ente em gema, ou ovo. É Portugal em essência, em gema. Significado também potencialmente mágico, encantatório: para os alquimistas o ovo filosófico é germe de vida espiritual, do qual deverá eclodir o ouro da sabedoria. No ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o receptáculo de todas as transmutações e metamorfoses.
4. Noutra última hipótese, Pessoa escreve: MENSA GEMMARUM: ou mesa das gemas. Altar ou mesa onde repousam as gemas Portuguesas – Portugal, e onde se procede ao sacrifício para a realização do sagrado superior. Neste significado, Portugal seria o altar onde os sacrifícios foram realizados em nome do divino.
5. Finalmente Pessoa pega na palavra “Mensagem” e corta-a para fazer MEA GENS ou GENS MEA: ou seja, minha gente ou gente minha, minha família. É a raça de heróis com que Pessoa se identifica e que nomeia ao longo do texto da “Mensagem
A Mensagem de Fernando Pessoa
A Mensagem, cujas poesias componentes foram escritas entre 1913 e 1934 – data da sua publicação, é sem dúvida a obra-prima onde pessoa lapidarmente imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas.
A Mensagem poderá ser vista com uma epopeia. Porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, sua estrutura será dada pelo que, noutra ideias/forças desse povo: regresso do paraíso, realização do impossível, espera do messias… raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, e ergueram a personalidade, separada, ou plasmaram na sua altura própria; mas Mães, as que estão na origem das suas dinastias, cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busco do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e, finalmente, depois dessa missão cumprida, dessa realização. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – o Encoberto.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Sonho de D.Manuel
«Estando já deitado no áureo leito,
Onde imaginações mais certas são,
Revolvendo contino no conceito
De seu oficio e sangue a obrigação,
Os olhos lhe ocupou o sono aceito,
Sem lhe desocupar o coração;
Porque, tanto que lasso se adormece,
Morfeu em várias formas lhe aparece.
«Das águas se lhe antolha que saíam,
Pera ele os largos passos inclinando,
Dous homens, que mui velhos pareciam
De aspeito, inda que agreste, venerando;
Das pontas dos cabelos lhe saíam,
Gotas, que o corpo todo vão banhando;
A cor da pele, baça e denegrida,
A barba hirsuta, intonsa, mas comprida.
«Este, que era o mais grave na pessoa,
Destarte pera o Rei de longe brada:
"Ó tu, a cujos reinos e coroa
Grande parte do mundo está guardada,
Nós outros, cuja fama tanto voa,
Cuja cerviz bem nunca foi domada,
Te avisamos que é tempo que já mandes
A receber de nós tributos grandes.
"Eu sou o ilustre Ganges, que na terra
Celeste tenho o berço verdadeiro;
Estoutro é o Indo, Rei, que, nesta serra
Que vês, seu nacimento tem primeiro.
Custar-te-emos, contudo, dura guerra;
Mas, insistindo tu, por derradeiro,
Com não vistas vitórias, sem receio
A quantas gentes vês porás o freio."
" O velho do Restelo".
No momento da largada ergue-se a voz de um respeitável velho que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e preferiam a guerra santa no Norte de África.
Se as falas das mães e das esposas representam a reação emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”) e do sentido das vozes anonimas ligadas ao cultivo da terra, sobretudo no norte do país, defensoras de uma política de fixação oposta a uma política de expansão com adeptos mais a sul.
E assim, o Gama que representa este homem sempre insatisfeito e que está disposto a enfrentar os mais difíceis obstáculos e a suportar os mais duros sacrifícios para conseguir o seu objectivo, tinha perfeita consciência da lógica, da verdade e sensatez das palavras do Velho do Restelo, da condenação moral da empresa mas não lhe podia dar ouvidos porque levava dentro de si um incentivo maior e mais forte, um dever a cumprir imposto pelo rei e pela pátria e até um imperativo ético e psicológico.
No entanto, as palavras pessimistas do velho acabam por evidenciar o heroísmo daquele punhado de homens tanto maior quanto mais consciente. O Velho do Restelo fala como um poeta humanista que exprime desdém pelo “povo néscio” ou seja, o clássico horror ao vulgo.
Há portanto uma contradição entre o discurso pacifista do velho e a épica exaltação dos heróis e seus feitos de armas. A personagem seria um porta-voz da ideologia característica da formação humorística de Camões.
O Velho do Restelo é o próprio Camões erguendo-se acima do encadeamento histórico e medindo à luz os valores do humanismo. Ele é o humanista que torna a palavra, humanista para quem os acontecimentos que lhe servem de tema constituem apenas o material para um poema e que reserva constantemente a sua liberdade de juízo.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Função da Mitologia em Os Lusíadas
À primeira vista, tudo isso poderia parecer uma grande contradição com as convicções do poeta, que era não só assumidamente cristão, como ainda um grande apelador da expansão da Fé e do espírito de cruzada. Mas essa contradição era facilmente explicada pelo seu espírito renascentista; pela capacidade que os humanistas possuíam em conjugar aspectos que, para muitos, seriam simplesmente inconciliáveis.
Além disso, e segundo a opinião de muitos estudiosos, a mitologia estava apenas presente por uma questão de estética e erudição. Nada mais representava, não constituindo sequer uma ameaça aos postulados da Igreja cristã. Assim pensou o padre Bartolomeu Ferreira, que leu a obra na figura de censor da Inquisição, e a autorizou sem achar “cousa alguma escandalosa”.
Na atualidade, porém, reconhece-se que o valor da mitologia é muito mais profundo e significativo, não podendo ela continuar a ser encarada como mera partícula decorativa. Os deuses pagãos têm uma vida própria e autônoma têm a capacidade de intervir e influenciar o destino dos homens; possuem, em suma, o estatuto de verdadeiras personagens principais no contexto do poema. Basta analisar o confronto entre Baco e Vénus, cada qual com os seus aliados, para compreendermos o carácter e a profundidade que estas figuras assumem no desenrolar da narrativa.
A mitificação do Herói
Nos lusíadas Camões apresenta os Portugueses como se fossem Deuses. Isto acontece segundo o autor foi necessário os Deuses reuniram-se no olimpo para decidirem se deixariam ou não que os Portugueses chegassem a Índia. Nesta reunião Vénus e Marte eram a favor do Portugueses, mas baco era contra porque tinha medo que os Portugueses lá chegassem lhe roubassem o domínio do comercio do Oriente ao colocar os Deuses ao mesmo nível os portugueses, Camões mitifica-os.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Género épico - "Os Lusíadas"
O género épico remonta à antiguidade grego e latina sendo os seus expoentes máximos Homero e Virgílio.
A epopeia é um género narrativo em verso, em estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários. Tem pois sempre um fundo histórico; de notar que o género épico é um género narrativo e que exige na sua estrutura a presença de uma acção, desempenhada por personagens num determinado tempo e espaço. O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura própria, cujos principais aspectos são:
Proposição - em que o autor apresenta a matéria do poema;
Invocação - às musas ou outras divindades e entidades míticas protectoras das artes;
Dedicatória - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta facultativa;
Narração - a acção é narrada por ordem cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já no decurso dos acontecimentos (“in medias res”), sendo a parte inicial narrada posteriormente num processo de retrospectiva, “flash-back” ou “analepse”;
Presença de mitologia greco-latina - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.
Estrutura externa e interna "d'Os Lusíadas"
Estrutura Externa d'Os Lusíadas
A obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos. Cada canto tem um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com 156 estrofes.
As estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heróicos (acentuados nas sextas e décimas sílabas).
O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB-AB-AB-CC).
1. As partes constituintes
Os Lusíadas constroem-se pela sucessão de quatro fontes:
· Proposição – parte introdutória, na qual o poeta anuncia o que vai cantar (Canto I, estrofes 1-3)
· Invocação – pedido de ajuda as divindades inspiradores (A principal invocação é feita as Tágides, no canto I, estrofes 4 e 5, ás Ninfas do Tejo e do Mondego, no canto VII 78-82 e, finalmente, a Calíope, no Canto X, estrofe 8)
· Dedicatória – oferecimento do poema a uma personalidade importante. (Esta parte, facultaria, pode ter origem nas Geórgicas de Virgilio ou nos Fastos de Ovídio; não existe em nenhuma das epopeias da Antiguidade)
· Narração – parte que constitui o corpo da epopeia; a narrativa das acções levadas a cabo pelo protagonista. (Começando no Canto I, estrofe 19, só termina no Canto X, estrofe 144, apresentando apenas pequenas interrupções pontuais).
2. Os planos narrativos
Obra narrativa complexa, Os Lusíadas constroem-se através da articulação de três planos narrativos, não deixando, ainda assim, de apresentar uma exemplar unidade de acção.
Como plano narrativo fuleral apresenta-nos a viagem de Vasco da Gama à Índia. Continuamente articulado a este e paralelo a ela, surge um segundo plano que diz respeito à intervenção dos deuses do Olimpo na Viagem. Encaixado no primeiro plano, tem lugar um terceiro, que é constituído pela História de Portugal, contada por Vasco da Gama ao rei de Melindo, para Paulo da Gama e por entidades dividas que vaticinam futuros feitos dos Portugueses.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Vida e Obra de Luis Vaz de Camões
Não se sabe ao certo quando nasceu Luís Vaz de Camões. Pensa-se que por volta de 1525, possivelmente em Lisboa, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá. Admite-se que tenha estudado em Coimbra, pois a vasta cultura evidenciada na sua obra só se justifica se tiver frequentado estudos superiores que apenas existiam naquela cidade. No entanto, não se encontrou, até hoje, qualquer documento comprovativo da sua passagem pela universidade.
Classicismo
Em Arte, o Classicismo refere-se, geralmente à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os
classicistas pretendem imitar. A arte classicista procura a pureza formal, o
equilíbrio, o rigor - ou, segundo a nomenclatura proposta por Friedrich Nietzsche: pretende ser mais apolínea que dionisíaca.
Alguns historiadores de arte, entre eles Giulio Carlo Argan, alegam que na História da arte concorrem duas grandes forças, constantes e antagônicas: uma delas é o espírito clássico, a outra, o romântico.
As duas grandes manifestações classicistas da Idade Moderna europeia são o Renascimento, Humanismo e o Neoclassicismo.
Serve também o termo clássico para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística. A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artísticas desse período são marcadas pela visão antropocêntrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.
Alguns historiadores de arte, entre eles Giulio Carlo Argan, alegam que na História da arte concorrem duas grandes forças, constantes e antagônicas: uma delas é o espírito clássico, a outra, o romântico.
As duas grandes manifestações classicistas da Idade Moderna europeia são o Renascimento, Humanismo e o Neoclassicismo.
Serve também o termo clássico para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística. A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artísticas desse período são marcadas pela visão antropocêntrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.
Renascimento
Renascimento, são os
termos usados para identificar o período da História
da Europa aproximadamente entre
fins do século XIII e meados do século XVII. Os estudiosos, contudo,
não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis
nas datas conforme o autor. Seja
como for, o período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida
humana, que assinalam o final da Idade
Média e o início da Idade Moderna. Apesar destas
transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião,
caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as
estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus
efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências.
Chamou-se
"Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das
referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças
deste período em direção a um ideal humanista e naturalista.
O termo foi registrado pela primeira vez por Giorgio
Vasari já no século XVI, mas a noção de
Renascimento como hoje o entendemos surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt A
cultura do Renascimento na Itália ,onde
ele definia o período como uma época de "descoberta do mundo e do homem
Humanismo
Humanismo é a filosofia moral que coloca os humanos como principais, numa escala de importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade. Embora a palavra possa ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial destaca-se por contraposição ao apelo ao sobrenatural ou a uma autoridade superior. Desde o século XIX, o humanismo tem sido associado ao anti-clericalismo herdado dos filósofos Iluministas do século XVIII. O termo abrange religiões não teístas organizadas, o humanismo secular e uma postura de vida humanista.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Reflexão sobre Fernando Pessoa
Muitas
vezes associamos a nossa própria imagem a algo completamente irreal e
impensável. Pensamos e temos uma ideia de nós próprios, que nem nós mesmo
sabemos porque a temos. Possivelmente porque interpretamos as nossas acções e
achamos que elas se aproximam, adequam ou simplesmente são reflexos de
sentimentos como a alegria, o amor ou a amizade por alguém.
Chega a parecer que já não
mais poderemos ser nós mesmos como um todo, mas que apenas conseguimos sentir
alegria com amor ou amor com alegria, que só conseguimos sentir uma emoção ao
mesmo tempo.
Mas, de um momento para o outro, toda a imagem que temos de nós próprios se destrói. Parece que à nossa frente se abriu um enorme buraco ou precipício, parece que a nossa vida acabará ali e que não mais seremos nós mesmos...
Mas, de um momento para o outro, toda a imagem que temos de nós próprios se destrói. Parece que à nossa frente se abriu um enorme buraco ou precipício, parece que a nossa vida acabará ali e que não mais seremos nós mesmos...
Passamos
a ser uma pessoa "aos bocados" e mesmo que tentemos juntar aqueles
pedaços de nós mesmos, isso parece inalcançável. Somos forçados a ser quem não
somos, por algo que faz parte de nós
Resumidamente,
não podemos que elementos extrínsecos nos fragilizem e que nos deixem dividir
em fragmentos de nós mesmos. Temos de manter a nossa própria integridade mesmo
que isso pareça impossível. Mas, não é por termos perdido um pouco de nós que
nos podemos "dar ao luxo" de perder o resto que nos pertence.
Álvaro de Campos- Aniversário
Aniversário
No
tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Análise:
No poema
Aniversário, Álvaro de Campos contrapõe o tempo da infância ao tempo presente.
A época da infância é marcada pela inocência, pois a criança não tem noção do
que se passa à sua volta: “Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa
nenhuma”.
A passagem de
criança para adulto é marcada por uma perda, pois se percebe que a vida não tem
sentido.
O poeta hoje
“é terem vendido a casa”, ou seja, é um vazio, que perdeu a sensação de
totalidade, de alegria, de aconchego dada pela vida em família na infância
distante. Assim, a festa de aniversário toma o aspecto simbólico de um ritual
familiar, dentro do qual a criança se torna o centro de um mundo que a acolhe e
protege carinhosamente.
No presente, não há mais aniversários nem comemorações: resta ao poeta durar, porque o pensamento o impede de ter a inocência de outrora.
Álvaro de Campos
Álvaro
de Campos, nasceu em Tavira em 1890. Era um homem viajado. Depois de uma
educação vulgar de liceu formou-se em engenharia mecânica e naval na Escócia e,
numas férias, fez uma viagem ao Oriente (de que resultou o poema “Opiário”).
Viveu depois em Lisboa, sem exercer a sua profissão. Dedicou-se à literatura,
intervindo em polémicas literárias e políticas. É da sua autoria o “Ultimatum”,
manifesto contra os literatos instalados da época. Apesar dos pontos de contacto
entre ambos, travou com Pessoa ortónimo uma polémica aberta. Protótipo da defesa
do modernismo, era um cultivador da energia bruta e da velocidade, da vertigem
agressiva do progresso, de que a Ode Triunfal é um dos melhores exemplos,
evoluindo depois no sentido de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da
vida, progressivos e auto-irónicos.
Ricardo Reis - Para ser grande,sê inteiro
Para
ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Análise:
Reis defende que o homem "seja inteiro sem a
fé". É um princípio basilar da filosofia de Reis que o homem encontre no
seu sofrimento a sua nobreza, ou seja, que aceita a dor da vida de maneira
inteira, que seja inteiro nesse sofrimento, mesmo que não seja inteiro numa fé.
É mesmo por não ser inteiro numa fé que o homem deve ser forte em ser inteiro
na realidade.
"Para ser grande, sê inteiro", diz Reis. O homem, porque aceita a
realidade, deve ter uma atitude nobre mesmo perante o sofrimento que vem com
essa aceitação.
"Nada teu exagera ou exclui". Reis defende que o homem abdique de tudo, mas que não abdique de si próprio. Apenas aquilo que é ilusório deve ser retirado da experiência humana, porque traz ao homem apenas humilhação. Entre essas coisas estão a religião e o amor.
"Nada teu exagera ou exclui". Reis defende que o homem abdique de tudo, mas que não abdique de si próprio. Apenas aquilo que é ilusório deve ser retirado da experiência humana, porque traz ao homem apenas humilhação. Entre essas coisas estão a religião e o amor.
"Sê todo em cada coisa". Ou seja, acha em
cada coisa a tua inteira felicidade, porque a felicidade, se está nos objectos,
não está na realidade. E é no campo estrito dos objectos, e não da vida, que o
homem expressa a sua personalidade.
Ricardo Reis
Ricardo
Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de jesuítas, tendo
recebido, por isso, uma educação clássica (latina). Estudou (por vontade
própria) o helenismo, isto é, o conjunto das ideias e costumes da Grécia antiga
(sendo Horácio o seu modelo literário). A referida formação clássica
reflecte-se, quer a nível formal, quer a nível dos temas por si tratados e da
própria linguagem utilizada, com um purismo que Pessoa considerava
exagerado.
Apesar de ser formado em medicina, não exercia. Dotado de convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação da República. Caracterizava-se por ser um pagão intelectual lúcido e consciente (concebia os deuses como um ideal humano), reflectia uma moral estoico-epicurista, ou seja, limitava-se a viver o momento presente, evitando o sofrimento (“Carpe Diem”) e aceitando o carácter efémero da vida.
Poemas de Alberto Caeiro
Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
Mas eu, com consciência e sensações e pensamento,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo -
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?
O vento sopra sem saber.
A planta vive sem saber.
Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?
Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,
Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.
Então quem sou eu?
Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?
Ou a minha alma é a consciência que a força universal
Tem do meu corpo por dentro, ser diferente dos outros?
No meio de tudo onde estou eu?
Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cérebro,
Em coisa abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.
Cessarei assim? Não sei.
Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar,
Não me tomará imortal.
Alberto Caeiro - Querem uma Luz Melhor que a do Sol!
AH! QUEREM uma luz
melhor que
a do Sol! Querem prados mais verdes do que estes! Querem flores mais belas do que estas que vejo! A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. Mas, se acaso me descontentam, O que quero é um sol mais sol que o Sol, O que quero é prados mais prados que estes prados, O que quero é flores mais estas flores que estas flores - Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!
a do Sol! Querem prados mais verdes do que estes! Querem flores mais belas do que estas que vejo! A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. Mas, se acaso me descontentam, O que quero é um sol mais sol que o Sol, O que quero é prados mais prados que estes prados, O que quero é flores mais estas flores que estas flores - Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!
Análise:
Apesar da posição em que a figura humana se encontra,
com os braços e as pernas esticadas e afastadas transmitir uma sensação de
felicidade, liberdade semelhante ao espírito de pureza, inocência e
espontaneidade de uma criança que conhece as coisas pelos sentidos como o
próprio autor e a que Caeiro faz referência em diversos poemas, podemos
associar o facto de ela estar a saltar a um desejo de querer mais e de alcançar
algo melhor que a realize, tal como Fernando Pessoa ortónimo, que nunca estava
satisfeito com o mundo, pois tinha de racionalizar tudo, o que o aborrecia.
Contrariando esta dor de pensar com uma atitude anti-metafísica, Alberto Caeiro
é feliz porque se recusa a pensar, a ponderar sobre as barreiras da vida, apreciando
assim o melhor que lhe podem dar, a pureza da natureza. Voltando á imagem, no
plano onde esta mulher se encontra, podemos verificar que o ambiente que a
envolve está mais calmo, o que pode se pode associar ao seu estado de
felicidade. Refiro-me ao estado límpido do céu, e á ausência de movimento do
mar, provocado por uma brisa.
Literatura Modernista em Portugal
O modernismo na literatura foi praticado por duas
gerações de intelectuais ligados a duas publicações literárias: um primeiro
modernismo surgido em 1915, em torno da revista Orpheu; um segundo modernismo
organizado em 1927, em torno da revista Presença.
Ainda
antes destas, surgiram em Portugal revistas que propunham diferentes soluções
estéticas e políticas para recuperar o atraso português a este nível, como a
Nação Portuguesa, de feição conservadora, e a Seara Nova, de tendências mais
progressistas e democráticas. Nesta revista colaboraram investigadores como o
historiador Jaime Cortesão, António Sérgio e os escritores Aquilino Ribeiro e
Raul Brandão
Revista Orpheu (Orphismo)
Os únicos dois números de Orpheu - Revista
Trimestral de Literatura, lançados em Março e Junho de 1915, marcaram a
introdução do modernismo em Portugal.
Tratava-se de uma revista onde Mário de Sá-Carneiro, Almada
Negreiros e Fernando Pessoa, entre outros intelectuais de menor vulto,
subordinados às novas formas e aos novos temas, publicaram os seus primeiros
poemas de intervenção na contestação da velha ordem literária; o primeiro
número provocou o escândalo e a troça dos críticos, conforme era desejo dos
autores; o segundo número, que já incluiu também pinturas futuristas de Santa-Rita
Pintor, suscitou as mesmas reacções.
Perante o insucesso financeiro, a revista teve de
fechar portas, pois quem custeava as publicações era o pai de Mário de Sá
Carneiro e este cometeu suicídio em 1916. No entanto, não se desfez o movimento
organizado em torno da publicação. Pelo contrário, reforçou-se com a adesão de
novos criadores e passou a desenvolver intensa actividade na denúncia inconformista
da crise de consciência intelectual disfarçada pela mediocridade académica e
provinciana da produção literária instalada na cultura portuguesa desde o fim
da geração de 70, de que Júlio Dantas (alvo do Manifesto Anti-Dantas, de
Almada) constituía um bom exemplo.
Revista Presença
(Presencianismo)
A revista Presença - Folha de Arte e Crítica, foi fundada em 1927, em Coimbra, por Branquinho da
Fonseca, João Gaspar
Simões e José Régio.
Não obstante ter passado tempos difíceis, não só financeira como
intelectualmente, foi publicada até 1940. O movimento que surgiu em torno desta
publicação inseriu-se intelectualmente na linha de pensamento e intervenção
iniciada com o movimento Orpheu, que acabou por integrar.
Continuou a luta pela
crítica livre contra o academismo literário e, inspirados na psicanálise de Freud, os seus intelectuais bateram-se
pelo primado do individual sobre o colectivo, do psicológico sobre o social, da
intuição sobre a razão. Além da produção nacional, a presença divulgou também
textos de escritores europeus, sobretudo franceses. Alguns dos escritores deste
segundo Modernismo foram: Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro, Aquilino
Ribeiro, Ferreira de Castro, Vitorino Nemésio, Pedro Homem de Mello, Tomás de
Figueiredo e Eça Leal.
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