terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Linguagem e Estilo de José Saramago
Memorial do Convento é uma obra marcada por uma narrativa de ritmo
caudaloso, fluente, ritmado por frases longas, onde são utilizados ditados populares e
expressões que revelam uma sabedoria adquirida na vida quotidiana. As marcas de
oralidade são, igualmente, utilizadas ao longo de toda a obra. Saramago possui um
estilo muito próprio, dialogal e inconfundível, onde as regras do discurso são
aparentemente transgredidas: utiliza parágrafos com aproximadamente uma página,
com textos contínuos com diálogos neles inseridos, sem recorrer à utilização da
pontuação normalmente utilizada: os dois pontos, o travessão ou as aspas. A estrutura
não deixa de ser organizada, mas existem no texto linguagens que não correspondem
ao estilo discursivo habitualmente utilizado. “De facto, José Saramago parece ter
revertido ou radicado o processo de escrita ao modo próprio da fala. Enquanto o
discurso escrito obedece a um conjunto de preceitos linguísticos segundo a
normatividade da língua, o discurso oral permite a libertação deste modelo, deixando
soltar a linguagem em improvisos sintácticos, morfológicos, semânticos e até fonéticos,
que exprimem a vivacidade, a novidade e a originalidade da língua” (in REAL, Miguel.
Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em Memorial do Convento de José Saramago. Caminho,
Lisboa: Janeiro de 1996)
Exemplificando, a descrição de elementos espaciais ou de comportamentos e
atitudes das personagens mostra uma transgressão das regras linguísticas do texto
escrito, “levando à interpenetração de elementos descritivos e narrativos, à mistura
com diálogos e outros segmentos frásicos que tornam o discurso indirecto "diluído",
mais próximo de realizações próprias do discurso indirecto livre (onde as coordenadas
da narração reflectem uma polifonia enunciativa sem fronteiras claras).” (in PEIXOTO,
Maria José, e FONSECA, Célia, Dossier Exame, Português B, 12º ano, 1.ª ed., Edições Asa, 2001, pp. 173-
174.)
Muitas das passagens na obra remetem-nos para excertos com elevada
simbologia. Após a leitura da obra, é possível verificar que o autor “cria” um novo
discurso, proveniente da mistura dos discursos directo, indirecto e indirecto livre, que, por vezes, torna difícil a sua diferenciação. Existe uma alternância entre o discurso
escrito e o discurso oral onde, por vezes, está intercalado o monólogo interior.
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