quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"A Mensagem" e análise do poema "O Encoberto"

Que símbolo fecundo/ Vem na aurora ansiosa?/ Na Cruz Morta do Mundo/ A Vida, que é a Rosa./ / Que símbolo divino/ Traz o dia já visto?/ Na Cruz, que é o Destino,/ A Rosa que é o Cristo./ / Que símbolo final/ Mostra o sol já desperto?/ Na Cruz morta e fatal/ A Rosa do Encoberto./ / Reflexão: Encontra-se tripartida entre Os símbolos, Os avisos e Os tempos. Com os primeiros começa por manifestar a esperança e o "sonho português", pois o actual Império encontra-se moribundo. Nos três avisos define os espaços de Portugal; com os cinco tempos traduz a ânsia e a saudade daquele Salvador que, na Hora, deverá chegar, para edificar o Quinto Império, cujo espírito será moral e civilizacional.

"A Mensagem" e análise do poema "O Quinto Império"

Triste de quem vive em casa,/ Contente com o seu lar,/ Sem que um sonho, no erguer de asa,/ Faça até mais rubra a brasa/ Da lareira a abandonar!/ Triste de quem é feliz!/ Vive porque a vida dura./ Nada na alma lhe diz/ Mais que a lição da raiz –/ Ter por vida a sepultura./ / Eras sobre eras se somem/ No tempo que em eras vem./ Ser descontente é ser homem./ Que as forças cegas se domem/ Pela visão que a alma tem!/ / E assim, passados os quatro/ Tempos do ser que sonhou,/ A terra será teatro/ Do dia claro, que no atro/ Da erma noite começou./ / Grécia, Roma, Cristandade,/ Europa – os quatro se vão/ Para onde vai toda idade./ Quem vem viver a verdade/ Que morreu D. Sebastião?/ / Reflexão: Este texto épico “Quinto Império” de Fernando Pessoa, faz parte de uma obra constituída por vários textos, o qual se chama “Mensagem”. Neste poema Fernando Pessoa faz o tema central do texto “D. Sebastião” com o cognome “O Desejado”, foi o décimo sexto rei de Portugal, é conhecido pela lenda de que vai aparecer num dia de nevoeiro em cima do seu cavalo, como fosse um “messias” que vem salvar Portugal.

"A Mensagem" e análise do Poema "Ascenção do Vasco da Gama"

Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra/ Suspendem de repente o ódio da sua guerra/ E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus/ Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,/ Primeiro um movimento e depois um assombro./ Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,/ E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões./ / Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta/ Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,/ O céu abrir o abismo à alma do Argonauta./ / Reflexão: A figura de Vasco da Gama é engrandecida neste poema por vários aspectos: 1. Pela situação de elevação aos céus num plano superior ao da simples condição humana – libertando-se do corpo, torna-se alma e imortaliza-se; 2. Pelos efeitos provocados por esta situação: o pasmo dos Deuses e dos Gigantes, o silêncio e assombro da natureza e a admiração dos homens; 3. Pelo nome de “Argonauta” dado a Gama, identificando-o com os heróis míticos da Grécia antiga, que procuravam desvendar o desconhecimento, buscando o inacessível e o impossível. É de salientar que este poema se associa à representação que é conferida a Vasco da Gama “n’Os Lusíadas” obra em que o herói é também elevado no plano dos Deuses nomeadamente no episódio “Ilha dos Amores”.

"A Mensagem" e Análise do Poema "O Infante"

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce./ Deus quis que a terra fosse toda uma,/ Que o mar unisse, já não separasse./ Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,/ / E a orla branca foi de ilha em continente,/ Clareou, correndo, até ao fim do mundo,/ E viu-se a terra inteira, de repente,/ Surgir, redonda, do azul profundo./ / Quem te sagrou criou-te português./ Do mar e nós em ti nos deu sinal./ Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez./ Senhor, falta cumprir-se Portugal!/ / Reflexão: Este poema (“O infante”) foi criado para estabelecer uma relação passado/presente/futuro. Deus quis que os portugueses sonhassem o desvendamento do mar, fazendo nascer a obra dos descobrimentos. Os portugueses no passado cumpriram, a missão divina, desvendando os mares desconhecidos e criando o Império. Mas este desfez-se e, no presente, Portugal é uma pátria sem glória que falta “cumprir-se” daí o apelo profético expresso no último verso exclamativo, ao cumprimento do destino mítico do Portugal.

"A Mensagem" e Análise do Poema "Ulisses"

O mito é o nada que é tudo./ O mesmo sol que abre os céus/ É um mito brilhante e mudo --/ O corpo morto de Deus,/ Vivo e desnudo./ / Este, que aqui aportou,/ Foi por não ser existindo./ Sem existir nos bastou./ Por não ter vindo foi vindo/ E nos criou./ / Assim a lenda se escorre/ A entrar na realidade,/ E a fecundá-la decorre./ Em baixo, a vida, metade/ De nada, morre./ / Reflexão: Ulisses, o herói da guerra de Tróia e protagonista da obra odisseia de Hómero, é um dos grandes mitos da civilização grega, e segundo a lenda, terá fundado Lisboa. Ao recuperar esta lenda e elege-lo como um dos primeiros poemas da “Mensagem”, Fernando pessoa tem precisamente a intenção de atribuir a Portugal uma origem mítica, que é mais valiosa de que qualquer origem histórica (os heróis desta obra são localizadas sobretudo no seu lado mítico). Tal como na “Mensagem”, Camões recupera nos Lusíadas a lenda de que Ulisses terá fundando Lisboa.

"A Mensagem" e Análise do Poema "O dos Castelos"

A Europa jaz, posta nos cotovelos:/ De Oriente a Ocidente jaz, fitando,/ E toldam-lhe românticos cabelos/ Olhos gregos, lembrando./ / O cotovelo esquerdo é recuado;/ O direito é em ângulo disposto./ Aquele diz Itália onde é pousado;/ Este diz Inglaterra onde, afastado,/ A mão sustenta, em que se apoia o rosto./ Fita, com olhar esfíngico e fatal,/ O Ocidente, futuro do passado./ / O rosto com que fita é Portugal./ / Reflexão: Tal como neste poema da “Mensagem”, a estrofe de “Os Lusíadas” indica Portugal como “cabeça da Europa toda” atribuindo-lhe uma missão predestinada. Mas “n’Os Lusíadas” essa missão é ditada pelo “Céu” que quis que Portugal vencesse na luta contra os mouros enquanto que na “Mensagem” a missão de Portugal será mais abrangente.

Estrutura da obra "A Mensagem"

Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como uma ideia completa, de sentido cósmico, e dando-lhe a forma simbólica tripartida – Brasão, Mar Português, O Encoberto. Que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte; essa conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – o Quinto Império. Assim, a terceira parte, é toda ela cheia de avisos, preenche de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem á luz: depois da Noite e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã: estes são os Tempos. E aí sempre perpassarão, com um repetido fulgor, sempre a mesma mas em modelações diversas, a nota da esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto… É dessa forma, o mítico caos, a noite, o abismo, donde surgirá o novo mundo, “Que jaz no abismo sob o mar que se segue”.

"A Mensagem" Gênero literário

A Mensagem é uma obra épico-lírica, pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo. A Mensagem está dividida em três partes. Esta tripartição corresponde a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. Mas essa morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.

Significado do Titulo da Obra "A Mensagem"

No entanto o primeiro título do livro não era "Mensagem", mas sim "Portugal". É por sugestão de um amigo - Da Cunha Dias - que Pessoa reconsidera, mudando o nome. Esse amigo ter-lhe-á indicado a evidência do nome "Portugal" estar já nessa altura demasiado vulgarizado, inclusive em marcas comerciais. Curiosamente - ou talvez propositadamente - "Mensagem" é uma palavra com o mesmo número de letras de "Portugal". Mas uma folha no espólio explica o processo porque passou a génese deste título, que foi muito bem pensado pelo seu autor. São os seguintes significados os encontrados nessa folha: 1. Portugal e Mensagem têm 8 letras. O oito é um número de harmonia, mas também um número ligado aos templários, mais precisamente à cruz Templária que tem 8 pontas. É a mesma cruz que depois vai nas caravelas, já cruz de da Ordem de Cristo, seguimento natural dos Templários depois da extinção destes por ordem Papal. Assim, Pessoa num primeiro sentido diz-nos que a "Mensagem" é "Portugal" e que "Portugal" é a realização da missão da Ordem de Cristo e - por descendência - da Ordem do Templo. 2. "Mensagem" é ainda dividida por Pessoa em 3 partes: MENS/AG(ITAT MOL)EM. "Mens Agitat Molem" é uma citação tirada de Virgilio na Eneida, que significa que a mente move a matéria. O objectivo da "Mensagem" seria mover as moles humanas, através da poesia. 3. Da palavra "Mensagem" Pessoa tira ainda outro significado, sublinhando ENS e GEMMA, para formar a expressão ENS GEMMA. Ou seja, ente em gema, ou ovo. É Portugal em essência, em gema. Significado também potencialmente mágico, encantatório: para os alquimistas o ovo filosófico é germe de vida espiritual, do qual deverá eclodir o ouro da sabedoria. No ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o receptáculo de todas as transmutações e metamorfoses. 4. Noutra última hipótese, Pessoa escreve: MENSA GEMMARUM: ou mesa das gemas. Altar ou mesa onde repousam as gemas Portuguesas – Portugal, e onde se procede ao sacrifício para a realização do sagrado superior. Neste significado, Portugal seria o altar onde os sacrifícios foram realizados em nome do divino. 5. Finalmente Pessoa pega na palavra “Mensagem” e corta-a para fazer MEA GENS ou GENS MEA: ou seja, minha gente ou gente minha, minha família. É a raça de heróis com que Pessoa se identifica e que nomeia ao longo do texto da “Mensagem

A Mensagem de Fernando Pessoa

A Mensagem, cujas poesias componentes foram escritas entre 1913 e 1934 – data da sua publicação, é sem dúvida a obra-prima onde pessoa lapidarmente imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas. A Mensagem poderá ser vista com uma epopeia. Porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, sua estrutura será dada pelo que, noutra ideias/forças desse povo: regresso do paraíso, realização do impossível, espera do messias… raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva. Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, e ergueram a personalidade, separada, ou plasmaram na sua altura própria; mas Mães, as que estão na origem das suas dinastias, cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busco do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e, finalmente, depois dessa missão cumprida, dessa realização. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – o Encoberto.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sonho de D.Manuel

«Estando já deitado no áureo leito, Onde imaginações mais certas são, Revolvendo contino no conceito De seu oficio e sangue a obrigação, Os olhos lhe ocupou o sono aceito, Sem lhe desocupar o coração; Porque, tanto que lasso se adormece, Morfeu em várias formas lhe aparece. «Das águas se lhe antolha que saíam, Pera ele os largos passos inclinando, Dous homens, que mui velhos pareciam De aspeito, inda que agreste, venerando; Das pontas dos cabelos lhe saíam, Gotas, que o corpo todo vão banhando; A cor da pele, baça e denegrida, A barba hirsuta, intonsa, mas comprida. «Este, que era o mais grave na pessoa, Destarte pera o Rei de longe brada: "Ó tu, a cujos reinos e coroa Grande parte do mundo está guardada, Nós outros, cuja fama tanto voa, Cuja cerviz bem nunca foi domada, Te avisamos que é tempo que já mandes A receber de nós tributos grandes. "Eu sou o ilustre Ganges, que na terra Celeste tenho o berço verdadeiro; Estoutro é o Indo, Rei, que, nesta serra Que vês, seu nacimento tem primeiro. Custar-te-emos, contudo, dura guerra; Mas, insistindo tu, por derradeiro, Com não vistas vitórias, sem receio A quantas gentes vês porás o freio."

" O velho do Restelo".

No momento da largada ergue-se a voz de um respeitável velho que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e preferiam a guerra santa no Norte de África. Se as falas das mães e das esposas representam a reação emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”) e do sentido das vozes anonimas ligadas ao cultivo da terra, sobretudo no norte do país, defensoras de uma política de fixação oposta a uma política de expansão com adeptos mais a sul. E assim, o Gama que representa este homem sempre insatisfeito e que está disposto a enfrentar os mais difíceis obstáculos e a suportar os mais duros sacrifícios para conseguir o seu objectivo, tinha perfeita consciência da lógica, da verdade e sensatez das palavras do Velho do Restelo, da condenação moral da empresa mas não lhe podia dar ouvidos porque levava dentro de si um incentivo maior e mais forte, um dever a cumprir imposto pelo rei e pela pátria e até um imperativo ético e psicológico. No entanto, as palavras pessimistas do velho acabam por evidenciar o heroísmo daquele punhado de homens tanto maior quanto mais consciente. O Velho do Restelo fala como um poeta humanista que exprime desdém pelo “povo néscio” ou seja, o clássico horror ao vulgo. Há portanto uma contradição entre o discurso pacifista do velho e a épica exaltação dos heróis e seus feitos de armas. A personagem seria um porta-voz da ideologia característica da formação humorística de Camões. O Velho do Restelo é o próprio Camões erguendo-se acima do encadeamento histórico e medindo à luz os valores do humanismo. Ele é o humanista que torna a palavra, humanista para quem os acontecimentos que lhe servem de tema constituem apenas o material para um poema e que reserva constantemente a sua liberdade de juízo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Função da Mitologia em Os Lusíadas


À primeira vista, tudo isso poderia parecer uma grande contradição com as convicções do poeta, que era não só assumidamente cristão, como ainda um grande apelador da expansão da Fé e do espírito de cruzada. Mas essa contradição era facilmente explicada pelo seu espírito renascentista; pela capacidade que os humanistas possuíam em conjugar aspectos que, para muitos, seriam simplesmente inconciliáveis.
Além disso, e segundo a opinião de muitos estudiosos, a mitologia estava apenas presente por uma questão de estética e erudição. Nada mais representava, não constituindo sequer uma ameaça aos postulados da Igreja cristã. Assim pensou o padre Bartolomeu Ferreira, que leu a obra na figura de censor da Inquisição, e a autorizou sem achar “cousa alguma escandalosa”.
Na atualidade, porém, reconhece-se que o valor da mitologia é muito mais profundo e significativo, não podendo ela continuar a ser encarada como mera partícula decorativa. Os deuses pagãos têm uma vida própria e autônoma  têm a capacidade de intervir e influenciar o destino dos homens; possuem, em suma, o estatuto de verdadeiras personagens principais no contexto do poema. Basta analisar o confronto entre Baco e Vénus, cada qual com os seus aliados, para compreendermos o carácter e a profundidade que estas figuras assumem no desenrolar da narrativa. 

 


A mitificação do Herói

Nos lusíadas  Camões apresenta os Portugueses como se fossem Deuses. Isto acontece segundo o autor foi necessário os Deuses reuniram-se no olimpo para decidirem se deixariam ou não que os Portugueses chegassem a Índia. Nesta reunião Vénus e Marte eram a favor do Portugueses, mas baco era contra porque tinha medo que os Portugueses lá chegassem lhe roubassem o domínio do comercio do Oriente ao colocar os Deuses ao mesmo nível os portugueses, Camões mitifica-os.