Afonso da Maia
Caracterização Física
Caracterização Física
Afonso
era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o
nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a
barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado
das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
Caracterização Psicológica
Provavelmente
o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais
valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e
requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é
obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas,
falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda
Runa.
Mais
tarde, dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em
conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio –
aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso
para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e
fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia,
quando descobre os amores incestuosos dos seus netos.
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.
Caracterização Psicológica
Pedro
da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande
instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra
que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já
velho". Eça de Queirós dá grande importância à vinculação desta
personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com
estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação
retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela
mãe. Apesar da robustez física, é de uma enorme cobardia moral (como
demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no
casamento e falha como homem.
Carlos da Maia
Carlos
era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros
largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha
barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era
arqueado aos cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de
"belo cavaleiro da Renascença".
Caracterização Psicológica
Carlos
era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai,
é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu
amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a
sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se
fixar num projecto sério e de o concretizar). Todavia, apesar da
educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte,
por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa,
fútil e sem estímulos. Mas também devido a aspectos hereditários – a
fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito
boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude,
a que fez a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no
grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.
Maria Eduarda
Caracterização Física
Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas". Era bastante simples na maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde resplandecia o incomparável esplendor do seu colo"
Caracterização psicológica
Podemos
verificar que, ao contrário das outras personagens femininas Maria
Eduarda nunca é criticada, Eça manteve sempre esta personagem à
distância, a fim de possibilitar o desenrolar de um desfecho dramático
(esta personagem cumpre um papel de vítima passiva). Maria Eduarda é
então delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o
que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua
caracterização é feita através do contraste entre si e as outras
personagens femininas, mas e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto
de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda
era perfeito, "Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o
nome dela; e pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza
serena." Uma
vez descoberta toda a verdade da sua origem, curiosamente, o seu
comportamento mantém-se afastado da crítica de costumes (o seu papel na
intriga amorosa está cumprido), e esta personagem afasta-se
discretamente de "cena".
Maria Monforte
Caracterização Física
Caracterização Física
Caracterização Psicológica
É
vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre,
excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai
levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova
Orleães. Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento
nasceram dois filhos.
Mais tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a
filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido - Pedro da Maia - e o filho
- Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as
desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto
Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria.
Deixa um cofre a um conhecido português - o democrata Sr. Guimarães -
com documentos que poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as
origens.
João da Ega
Caracterização Física
Caracterização Física
Ega
usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço
esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato
de Eça.
Caracterização Psicológica
João
da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É uma personagem
contraditória. Por um lado, romântico e sentimental, por outro,
progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era o
Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de
Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma
rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a
filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural,
anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de
diletantismo, concebe grandes projectos literários que nunca chega a
executar. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo
inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua grande paixão -
Raquel Cohen. Ega, um falhado, corrompido pela sociedade, encarna a
figura defensora dos valores da escola realista por oposição à
romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos
capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a
ele que o Sr. Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que
Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria
Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.
Conde de Gouvarinho
Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta.
Caracterização Psicológica
Era
voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta
de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a
incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos). Fala
de um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto
com a sua mulher.
Condessa de Gouvarinho
Caracterização Física
Cabelos
crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem
feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é
filha de um comerciante inglês do Porto.
Caracterização Psicológica
É
imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo
de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com
que o casal se desentenda. Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e
impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem
qualquer interesse, demasiado fútil.
Dâmaso Salcede
Caracterização Física
Era
baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de
Guimarães. A ele e ao tio se devem, respectivamente, o início e o fim
dos amores de Carlos com Maria Eduarda.
Caracterização Psicológica
Dâmaso
é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e
sem dignidade. É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que revela
o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia
contra Carlos n' A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano
e tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer".
Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do
séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio,
como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos.
Sr. Guimarães
Caracterização Física
Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830.
Caracterização Psicológica
Conheceu
a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos
que identificavam a filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da
trágica verdade que destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda.
Alencar
Tomás
de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e
sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos".
Caracterização Psicológica
Era
calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de
artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da
moral. Era também o companheiro e amigo de Pedro da Maia. Eça serve-se
desta personagens para construir discussões de escola, entre
naturalistas e românticos, numa versão caricatural da Questão Coimbrã.
Não tem defeitos e possui um coração grande e generoso. É o poeta do
ultrarromantismo.
Caracterização Física
"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado.
Caracterização Psicológica
Maestro
e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era
demasiado chegado à sua velha mãe. Segundo Eça, "um diabo adoidado,
maestro, pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao
meio lisboeta - "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma
representava".
Craft
É uma personagem com pouca importância para o desenrolar da ação, mas que representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem. Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza. É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com retidão". Inglês rico e boémio, colecionador de "bric-a-brac".